A micção de stress em gatos está por trás da história que vos conto hoje, e que começa no dia em que descobri uma poça de chichi na minha cama. A primeira vez até achei que tinha sido um dos miúdos (eram ainda bebés)… Mas rapidamente percebi que não. Voltou a acontecer várias vezes e geralmente quando não estava mais ninguém em casa. Até que houve um dia que apanhei o Egas com “a boca na botija”: vi mesmo o gato a fazer chichi na minha cama.
O Egas tinha uma enorme preferência pela minha cama, mas não era muito esquisito… Se fechássemos a porta do meu quarto outras camas eram atacadas. Ou seja, a política da porta fechada não servia muito bem, e considerando a idade dos miúdos não era boa ideia de todo.
Por isso, rapidamente passei à pergunta: “porque é que o Egas anda a fazer isto?” e depois “Como é que evitamos que volte a acontecer?”. A primeira coisa que fiz foi ter a certeza de que o Egas não estava doente. Como estava tudo bem a questão passou para o campo dos problemas comportamentais.
Por isso decidimos em família que era melhor contactar um veterinário especialista em bem-estar e comportamento animal.
Ficámos a saber que os gatos não vivem muito felizes em grupos, principalmente dois machos. Não formam uma família, apenas se toleram, numa espécie de “time-sharing” dos humanos de quem gostam, dos areões, dos comedouros, dos brinquedos e dos seus locais de repouso pela casa.
Ora, pode acontecer que um dos machos exerça sobre o outro uma espécie de bullying, uma pressão enorme. A simples presença do gato dominante pode ser suficiente para provocar enormes níveis de stress ao gato mais sensível.
Estes enormes níveis de stress e susto permanente seriam a causa mais provável para este comportamento do Egas. O nosso gato mais novo fazia chichi na minha cama porque não estava bem e porque não conseguia lidar com o stress que sentia.
Portanto, voltámos para casa com uma lista de alterações a fazer lá em casa para ajudar o Egas a viver de forma menos stressada e a ser uma gato mais feliz.
E não foi nada complicado, embora tenha implicado algum investimento e também perseverança. A primeira coisa foi duplicar o número de areões. Passámos a ter quatro em diferentes zonas da casa, e também passamos a comprar areia aglomerante de melhor qualidade para garantir que as idas à casa de banho eram uma experiência agradável e não stressante para o Egas.
Também aumentámos o número de comedouros e bebedouros, para ter a certeza de que os dois gatos nunca necessitavam de competir pela comida. Muito importante também foi colocar esses comedouros e bebedouros longe dos areões. Os gatos são muito parecidos connosco neste aspecto: ninguém gosta de comer ao lado da casa de banho, pois não?
Investimos numa fonte de água circulante, que ajuda a que a água do bebedouro esteja mais fresca e arejada, e espalhámos por várias zonas da casa dispensadores de feromonas, odores que apenas os gato detectam e que têm propriedades calmantes.
Aumentámos enriquecimento ambiental, o número e a variedade dos brinquedos que estavam disponíveis, o que evita que os gatos fiquem aborrecidos.
Além de tudo isto, tivemos que ensinar ao Egas que fazer chichi em cima da cama é uma coisa pouco agradável. Isso faz-se precisamente usando como vantagem o facto dos gatos não gostarem de comer no local onde fazem as suas necessidades. Passámos a colocar um comedouro com ração no meio da minha cama. A presença de comida diz ao Egas que aquele não é um sítio para ele fazer chichi.
Durante este período de treino vedámos o acesso aos restantes quartos. Embora eu não goste nada de portas fechadas em casa, teve mesmo de ser.
Claro que nada que implique alterações comportamentais acontece do dia para a noite. É um processo que pode ser lento e que implica dedicação e esforço da nossa parte. Mas a verdade é que com o passar do tempo os acidentes na minha cama deixaram de acontecer. E devagarinho fomos deixando outras portas abertas lá por casa e experimentando se o Egas ainda fazia das suas.
Hoje em dia o Egas é um gato feliz ( e certamente menos stressado). Às vezes temos surpresas menos boas (e lá vou eu lavar a roupa de cama toda), mas normalmente só quando há visitas lá eu casa, ou refeições de família muito barulhentas e festivas.
Sabemos que temos um gato mais sensível ao stress e que o nosso papel, enquanto família dele, é ajuda-lo. Ao fim e ao cabo, nenhum de nós gosta de viver em permanente stress e desconforto, pois não?
Inês Viegas, DVM
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