Coelhos e a Saúde Oral

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Dentes saudáveis são fundamentais para a qualidade de vida e bem-estar dos coelhinhos, ainda para mais quando a principal complicação clínica com que são afetados é o sobrecrescimento dentário.

Dados básicos

Os coelhos possuem uma dentição difiodonte o que significa que na infância têm 16 dentes de leite que na fase adulta são substituídos por entre 26 a 28 dentes definitivos. Entre estes, encontram-se os incisivos, molares e pré-molares, sendo que os últimos não são observáveis com facilidade por se encontrarem no fundo da cavidade bucal e porque o coelho não vai facilitar a tarefa.

Uma das características peculiares dos coelhos é o crescimento contínuo dos dentes, que vai precisar de ser compensado com o desgaste que é feito através da alimentação fibrosa, já que a mastigação e a abrasividade dos alimentos vão promover naturalmente esse efeito.

Ao contrário do que se pensa, esta espécie não se encontra na classificação de roedores, mas sim lagomorfos. Os lagomorfos apresentam quatro dentes no maxilar superior, enquanto os roedores apenas possuem dois. Os dois dentes a mais – face aos roedores – são designados por incisivos maxilares secundários e, localizam-se por trás dos dentes principais. Estes últimos, designados por incisivos primários são alongados e ligeiramente curvados e crescem em média 2 a 2,4 milímetros por semana.

As doenças dentais dos coelhos são bastante dolorosas principalmente quando o desgaste adequado não acontece, pois surgem complicações, não apenas relacionadas com a saúde bucal, mas a vários níveis. Com efeito, as suas causas prendem-se com

1) a falta de feno na alimentação como causa mais comum, bem como a adição de rações muesli à dieta dos coelhos pois por serem demasiado fáceis de mastigar, causam uma insuficiente e/ou desigual erosão dentária;

2) fatores genéticos como prognatismo mandibular que levam a que não exista o contacto ideal entre os dentes de ambos os maxilares ou má oclusão dentária, provocando um desgaste ineficiente;

3) traumatismo, como uma pancada na boca, e que pode gerar crescimento do dente em posição incorreta levando também a uma má oclusão bucal.

Lesões no interior da boca provocadas pela corrosão ou perfusão dos tecidos envolventes, por dentes alongados e/ou com pontas irregulares, são uma porta de entrada para bactérias nocivas e resíduos de comida que podem gerar inflamações graves. Estas bactérias, uma vez residentes na boca do animal pode gerar doença periodontal ou levar ao aparecimento de cáries, que por sua vez tendem a criar abcessos.

Uma das consequências dos abcessos, quando alocados nos dentes molares e pré-molares, é o risco de gerar aumento da pressão do olho, tornando-o mais saliente e por isso mais vulnerável a infeções e a sofrer lesão no nervo ótico.

Os dentes anormalmente alongados também podem encaracolar ou projetar-se para fora da boca, impedindo o coelho de se alimentar convenientemente e até de beber água levando a uma alimentação deficiente.

Em qualquer das situações descritas, o coelho irá sentir desconforto/dor e dificuldade na mastigação, rejeitando progressiva e perigosamente a comida. Com isto, sofre uma perda de peso acentuada que resulta em estado de anorexia (e que pode ser fatal!).

Prevenção

Uma dieta equilibrada é fundamental para todos os animais. No entanto, para os coelhos, não basta que a alimentação forneça os nutrientes necessários, mas que a mesma também trabalhe na manutenção da saúde oral, promovendo uma adequada erosão dentária. Assim, a alimentação torna-se essencial para a prevenção de afeções orais dos coelhos.

O que beneficiar?

A alimentação deverá ser o mais natural possível e predominantemente baseada em feno, para uma dieta rica em fibras e que favoreça o desgaste dentário. No entanto, existem várias rações em pellets no mercado que podem ser um complemento nutricional e que também promove a mastigação.

O que evitar?

Devem evitar-se alimentos que não o favoreçam o desgaste dentário, tais como ração em muesli, frutas ou outras guloseimas próprias para a espécie.

Sinais:

Os coelhos são animais discretos e resilientes, por isso são capazes de dissimular desconforto ou lesões durante bastante tempo. Assim, é fundamental que o tutor do animal verifique o estado dos dentes com regularidade e que seja atento a sinais, ainda que subtis, tais como:

  • Perda de Peso;
  • Salivação excessiva e queixo molhado;
  • Seletividade na alimentação, com preferência para alimentos mais macios;
  • Excesso de corrimento ocular;
  • Alteração de comportamento, sobretudo estados letárgicos/apáticos;
  • Alteração dos hábitos de higiene, por exemplo, não cuidar do pêlo.

Tratamentos

Qualquer um dos sinais é motivo suficiente para consultar de imediato o médico veterinário. Nunca, em qualquer circunstância, devem ser os tutores do animal a limar ou cortar os dentes em casa, este procedimento é exclusivamente veterinário

O desnivelamento dentário apenas pode ser avaliado e tratado por um médico veterinário, se possível, experiente em animais exóticos, recorrendo a instrumentos específicos. Na impossibilidade de observação o diagnóstico é efetuado com auxilio de radiografia e o tratamento consiste no ajuste oclusal com correção do alinhamento dentário.

Em situações mais pontuais, como o crescimento anormal de dentes por fator hereditário ou permanência de desgaste dentário insuficiente face ao rápido crescimento, a solução passa pelo corte periódico dos dentes ou pela sua remoção.

Conclusão

É crucial realizar anualmente um check up dentário para avaliar o estado geral dos dentes e/ou apará-los se necessário, uma vez que o sucesso de um eventual tratamento tem uma forte dependência com um diagnóstico precoce e insistir na alimentação como principal estratégia de conservação da saúde oral.

Autora: Marisa Mariz

 

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