DEVEM AS CRIANÇAS CRESCER COM ANIMAIS?

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A relação do homem com os outros animais começou por ser uma relação meramente funcional, em que os animais serviam os propósitos de defesa do território, auxiliavam na caça e no trabalho nos campos, transportavam as cargas mais pesadas e até os próprios humanos. Com a passagem do tempo, e fruto também do incremento da capacidade humana para a produção de utensílios e máquinas que foram substituindo os animais nestas tarefas, a relação entre os seres humanos e os animais ditos irracionais foi evoluindo para uma esfera diferente, mais afectiva, de tal forma que na actualidade a adopção de animais de companhia é uma tendência crescente em todo o mundo, sendo reconhecida uma importância cada vez maior dos animais no seio familiar, ao mesmo tempo que também os cuidados veterinários passaram a ser mais generalizados e até as reformas legislativas têm tido em conta os direitos e os interesses dos animais.

De facto, grande parte de nós cresceu com animais em casa e encara a convivência entre estes amigos e as crianças como uma influência positiva para os mais pequenos. Cães e gatos são hoje as escolhas mais comuns das famílias nos mais diversos pontos do planeta, mas há também quem opte por coelhos, ratos, hamsters, porquinhos-da-Índia, chinchilas, cobras, iguanas ou aranhas! O mais importante a reter é que, independentemente da espécie a que pertencem, todos os animais são seres inteligentes, sencientes e sociáveis, que merecem o nosso carinho e o nosso respeito, e que contribuem, cada um à sua maneira, para a formação do carácter dos mais novos com quem dividem o espaço e as brincadeiras.

Muitos têm sido os estudos académicos, ao longo do tempo e designadamente nos últimos anos, que defendem a importância da convivência entre crianças e animais, frisando que esse contacto reserva inúmeras vantagens para os pequenos humanos, estimulando o desenvolvimento das suas competências sociais e dos sentimentos de empatia e compaixão, aumentando a sua auto-estima e a sua noção de responsabilidade e fortalecendo até o seu sistema imunitário. Em determinadas situações, os animais podem inclusivamente ajudar a atenuar os efeitos de certas doenças: sabe-se hoje que as crianças com perturbações do espectro de autismo, por exemplo, beneficiam muito das terapias assistidas com animais. Também existem, em vários países do mundo, programas específicos em que as crianças são convidadas a ler para cães e gatos – na própria casa ou em abrigos de animais abandonados – como forma de tranquilizar os animais e dar às crianças a oportunidade de perderem o medo desse contacto (as fobias relacionadas com animais são relativamente comuns) e estimular, ao mesmo tempo, as competências na leitura.

A designação “terapias assistidas com animais” surgiu nos anos 90 do Século XX para definir um conjunto de procedimentos realizados por profissionais capacitados na área da saúde, que usam os animais como ferramenta terapêutica, visando obter melhorias nas condições físicas, psíquicas, sociais, emocionais e cognitivas das pessoas intervencionadas.

O cão é o animal mais utilizado nas terapias assistidas, que neste caso assumem o nome genérico de Cinoterapia, mas é possível usar neste tipo de intervenções gatos, coelhos, chinchilas, hamsters, peixes e até pássaros! Em alguns casos, ainda pouco significativos, há também uma utilização dos animais por parte dos psicólogos, que dessa forma procuram optimizar os efeitos dos seus tratamentos, e com as crianças esse pode ser um recurso valioso, já que junto dos animais os mais pequenos tendem a ser mais sociáveis e comunicativos.

Enquanto a generalidade dos estudos se foca nos benefícios da relação entre crianças e animais, uma outra linha de investigação tem abordado os aspectos menos positivos dessa convivência: o risco aumentado da transmissão de zoonoses e as alergias que os humanos podem desenvolver no contacto com o pêlo dos animais (embora seja já bastante vasta a documentação que refere que o convívio da criança com os animais poderá ajudá-la a combater a tendência para o surgimento de alergias e até a asma, por via, como atrás ficou dito, do fortalecimento do seu sistema imunitário). Mais difícil de vencer será o efeito negativo da perda do animal, por roubo ou morte, que poderá gerar enorme angústia e até depressão na criança…

Mas se não faltam estudos sobre os efeitos do convívio com animais para as crianças, parece ser ainda pouco significativa a abordagem dos efeitos dessa convivência para os próprios animais. Há associações de protecção animal que recusam entregar cães ou gatos para adopção a famílias com crianças muito pequenas (em norma com menos de seis anos), considerando que a segurança e o bem-estar do animal poderão ser postos em causa pela forma muitas vezes desajeitada com que os mais pequeninos manuseiam os animais, pegando-lhes pela cauda, por exemplo, ou agarrando-os quando não querem ser agarrados ou brincar. Tendo em conta que estes comportamentos dos menores poderão suscitar situações de risco – um gato assanhado poderá arranhar a criança e um cão contrariado poderá mordê-la –, percebe-se a hesitação destas associações em entregar um animal a um agregado familiar em que haja crianças muito pequenas.

Independentemente de todos estes aspectos, a realidade que salta à vista da maior parte de nós é a de que as crianças que crescem com animais são normalmente mais expansivas, comunicativas, ágeis, saudáveis e felizes, e por isso será sempre de apostar na criação de laços entre os animais e os humanos mais jovens. Isso, obviamente, depois de acautelar que o agregado familiar dispõe de todas as condições para zelar pela saúde e pela qualidade de vida do animal escolhido, e que este não será, de nenhuma forma, maltratado pelos membros da família mais novos. Eis a receita para um lar mais feliz!

Autora: Carla Teixeira — Jornalista | Crazy Cat Mom
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