Cookie & Eu – Uma história de Gatoterapia

Home / Gatos / Cookie & Eu – Uma história de Gatoterapia

Muito se fala dos efeitos positivos que a simples convivência com um animal de companhia pode ter na qualidade de vida e até na saúde das pessoas, da mesma forma que todos sabemos como um animal pode precisar do aconchego humano para garantir o seu próprio bem-estar.

Talvez o conceito de “animais de terapia” não seja ainda tão conhecido da generalidade das pessoas, mas basta que tenhamos convivido em determinado momento da nossa vida com um animal para sabermos como ele pode ser decisivo na construção da nossa felicidade.

De animais de terapia já tinha ouvido falar, mas foi em Faro, para onde me mudei em Setembro de 2013, que fiquei a entender melhor esse conceito e toda a sua dinâmica.

Quando me mudei para cá, toda a minha vida mudou muito também: depois de 37 anos a viver numa casa sempre cheia, com pai, mãe, irmãs, amigos e animais, de repente dei por mim a 600 quilómetros de quase toda a gente que conhecia e que amava, numa casa em que ficava os dias inteiros sozinha, à espera de ver o meu namorado chegar do emprego. E emprego era coisa que também eu procurava, mas sem sucesso.

Por isso os dias arrastavam-se, longos e pesados, e não demorou muito para que começasse a sentir os efeitos de tantas horas de solitude: sentia-me um pouco triste e desmotivada, sem desafios que me permitissem estimular o corpo e a mente, e a dada altura já dava por mim a esquecer-me de imensas coisas – logo eu, que sempre tinha tido uma memória excelente para todos os pormenores –, e até a confundir palavras e os nomes das pessoas e dos objectos à minha volta…

Foi também por isso que decidimos adoptar um animal de companhia.

Apenas tinha tido cães, mas acabaria por ser uma gata a conquistar-me só com um olhar: quando uma amiga publicou numa rede social um apelo para adopção de uma gatinha que tinha resgatado da rua, os olhos tristes da bichana chamaram por mim.

Ela era pequenina e escanzelada, quase toda branquinha, com uma espécie de cabeleira ruiva e uns olhos muito amarelos e muito, muito grandes. Tinha um ar profundamente triste, e eu senti, assim que olhei para ela, que aquela seria a minha gata. Entrei em contacto com a pessoa responsável e fui conhecê-la.

As minhas primeiras palavras para aquela gatinha assustada foram: “Olá, eu sou a tua mamã”. E levei-a para casa, com a amiga que a tinha resgatado convencida de que seríamos muito felizes juntas!

Não foi fácil. A Cookie, como lhe chamámos, tinha uma história de ansiedade e stress. Apesar de ter vivido apenas sete meses na rua, juntamente com outros gatos, ela tinha pavor de animais e de pessoas.

Soube depois que toda a sua vida ela tinha sido vítima de “bullying” por parte da mãe e de uma irmã, e suspeito que também seres humanos a devem ter feito passar um mau bocado, pois hoje, volvidos mais de três anos sobre esse primeiro dia, a Cookie continua a ter um medo enorme de animais, pessoas desconhecidas e até de pequenos barulhos que não saiba identificar.

Os nossos primeiros oito meses foram extremamente difíceis para ela e para mim, mas foi a luta que travámos juntas que fez com que nos tornássemos tão próximas e com que eu seja hoje uma pessoa muito mais feliz. Nesses oito meses fomos “animais de terapia” uma da outra. Sim, eu fui “animal de terapia” da minha gata, e ela também cuidou de mim! ☺

AMOR COM AMOR SE PAGA

Durante oito meses não consegui sequer tocar na Cookie sem que ela não me arranhasse.

Todos os dias tentei, e todas as minhas tentativas falharam.

Ela passava imenso tempo escondida, e eu dava-lhe tempo e deixava que me observasse para entender que não estava ali para a magoar. Eu nunca a magoaria, e prometi-lhe isso mesmo no primeiro dia.

A Cookie só precisava de amor, e eu tinha muito amor para lhe dar. Dei-lhe amor, dei-lhe tempo, dei-lhe paciência, mas dei-lhe também uma certeza: comigo ela estaria sempre segura.

Ao fim de oito longos e duros meses de braços arranhados e mãos constantemente em sangue, ela retribuiu: deixou que lhe afagasse a cabeça sem me oferecer um arranhão como moeda de troca. Não sei embrulhar em palavras o sentimento que me assaltou nesse dia, mas sei que foi um dos momentos mais felizes da minha vida!

Amor com amor se paga, e a Cookie estava disposta a retribuir a minha dedicação e todo o meu afecto!

Haverá muita gente incapaz de entender o laço que nos une, a mim e à Cookie (e quem não sabe o que é o amor é que perde, claro!), mas nós sabemos o que sentimos uma pela outra.

A Cookie não miava. Durante meses não emitiu um único som. Abria a boca às vezes, como se fosse miar, mas não produzia som algum. Nunca! Pensávamos que ela era muda… Mas certo dia miou. Miou para mim, e perante o meu espanto e a minha alegria respondeu, a miar, a todas as palavras que nesse dia lhe disse. Foi a nossa primeira conversa.

Desde esse dia a Cookie nunca mais se calou. Hoje temos longas conversas! Ela mia sempre muito baixinho, quase como quem geme apenas. Como se não quisesse que se soubesse que ela está ali. Mas ela fala comigo! ☺

Sei, sem falsa modéstia, que a Cookie é uma conquista minha. Dura, exigente, mas minha. Não sei quantas pessoas teriam tido a entrega e a disponibilidade (e capacidade de regenerar a pele arranhada dos braços e das mãos…) que eu tive para a ajudar a vencer o medo que a consumia e a aprender a confiar em mim, mas sei que repetiria tudo de novo!

Fui “animal de terapia” dela e ela pagou-me com amor todo o amor que lhe dei.

A Cookie tem hoje dois irmãos felinos, a Sushi e o Tomé, que também resgatámos da rua e que, noutra altura, teria sido impossível ter cá em casa, tal era o medo que ela tinha de tudo e de todos!

Talvez esta não seja a perspectiva mais habitual de quem fala de terapia com animais, mas é a minha perspectiva. A de alguém que tem a certeza de que os animais conseguem curar muitos dos nossos males, se nós os tratarmos com amor e com o respeito que eles merecem e se os ajudarmos a curar os males deles…

Carla Teixeira
Jornalista | Crazy Cat Mom

appstore playstore

Comments(0)

Leave a Comment