Alimentação Crua: Uma Boa Opção?

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Alimentação crua – o que é?

Atualmente a opção de alimentar os nossos cães com dietas baseadas em alimentos crus tem ganho cada vez mais popularidade. A adoção de uma alimentação crua deve-se tanto a preferências pessoais de cada tutor, como também por recomendações médicas em certas doenças.

Estas dietas também são conhecidas pelo acrónimo inglês BARF (Biologically Appropriate Raw Food) ou RMBD (Raw Meat Based Diets). A base consiste em carne crua, órgãos (rins, fígado, etc), ossos (inteiros ou moídos) e cartilagem, complementando a refeição com vegetais e ovos crus. Têm como objetivo imitar o que o cão comeria na natureza, sendo por isso considerada uma alimentação mais natural.

Estas refeições podem ser preparadas em casa ou adquiridas tanto em lojas físicas como online. Podem ser encontradas na forma de preparados liofilizados ou congelados, que é o seu formato mais comum.

Vantagens e Desvantagens

Quando falamos de dietas, convém verificar os fatos científicos que apoiam as escolhas que fazemos. A nutrição está intimamente ligada à saúde. Por isso queremos garantir que a alimentação que damos aos nossos pets, é a que lhes trará mais benefícios de saúde. Também há considerações práticas a ter em conta – p.ex. condições de armazenamento e conservação. Isto, para além de considerações financeiras. Em relação a preços, a nossa investigação acerca deste tema não nos permitiu fazer comparações. Até porque os valores podem variar muito consoante o local onde nos encontremos. Em seguida listamos as vantagens e desvantagens que encontrámos, focando apenas nas considerações nutricionais e de índole prática.

Vantagens

  1. Melhora a saúde da pele e do pelo – tipicamente, a dieta BARF apresenta uma alta concentração de ácidos gordos. Esta característica permite obter uma pele mais saudável e um pêlo mais brilhante.
  1. Dentes mais limpos – consequência da mastigação de ossos crus que, ao rasparem nos dentes, vão eliminando a placa de tártaro. A mastigação de ossos atua de um modo mecânico semelhante aos sticks dentários.
  1. Melhor palatabilidade – uma dieta BARF é muito mais saborosa para o seu pet do que um alimento seco. Por este motivo, pode ser uma alternativa para pets que rejeitem alimentos secos e/ou que não comam o necessário.
  1. Energia melhorada – como esta alimentação visa imitar o que os nossos animais comeriam na Natureza, à partida é mais digerível. Quem usa dietas BARF alega  que as mesmas melhoram os níveis de energia, beneficiam o sistema imunitário e causam menos perturbações no sistema digestivo. É por isso que, por vezes, se recomendam estas dietas para cães com alergias ou sistemas digestivos mais sensíveis. Estes benefícios não se encontram ainda comprovados cientificamente (à data de escrita deste artigo).
  1. Menor volume de fezes – como a dieta BARF é mais digerível, os seus componentes vão ser absorvidos em maior quantidade. Consequentemente, a quantidade de fezes a expulsar vai ser menor. A fibra destas dietas por vezes também é inferior à dos alimentos secos.
  1. Odor menos intenso – os tutores que optam pela alimentação crua afirmam que os seus animais apresentam um cheiro menos intenso, tanto no hálito, como no próprio pelo e nas fezes. 

Desvantagens

  1. Dieta pouco equilibrada – Num estudo em que se avaliaram 200 dietas caseiras, 95% tinham pelo menos um nutriente essencial em falta. Múltiplas deficiências nutricionais foram encontradas em 83.5% das dietas. Quando estas dietas são implementadas sem a ajuda de um especialista em nutrição animal, é difícil colmatar todas as necessidades nutricionais. As principais deficiências encontradas foram falta de cálcio e fósforo (podendo levar a fraturas ósseas e problemas dentários), a falta de potássio e zinco e o excesso de vitamina D (que pode ser prejudicial, especialmente para cachorros). No entanto, se já opta por este tipo de dieta e compõe as refeições de forma empírica, não precisa de ficar assustado. Os efeitos das deficiências em nutrientes normalmente demoram a instalar-se, por isso ainda vai a tempo de os evitar. Consulte um especialista em nutrição animal para adequar a composição da dieta.
  1. Potencial risco de infeções – existem evidências científicas amplas de que a carne crua pode alojar parasitas e bactérias causadoras de doenças aos seus pets. Estes, por sua vez, podem transmitir essas  infeções aos seres humanos. A carne crua e os órgãos internos a que temos acesso nas superfícies comerciais podem ser facilmente contaminados no matadouro. Estas matérias primas apresentam elevados níveis de bactérias como a  Salmonella ou E. coli. Muitos destes agentes têm o potencial de causar gastroenterites (no seu pet e em si) provocando vómito e/ou diarreia. Vários estudos sobre estes agentes têm incidido em pets que consomem alimentos crus. Estes estudos comprovaram que estes pets excretam agentes patogénicos em maior número, alguns dos quais resistentes a antibióticos. Este facto pode revelar-se um risco para a saúde pública. É fundamental conhecer os riscos.  Ter garantias de qualidade das matérias primas, manipular corretamente estes produtos e ter cuidado na conservação dos mesmos, é essencial para garantir a saúde de todos os envolvidos (pets e humanos).
  1. Possíveis complicações digestivas – apesar da presença de ossos na dieta BARF ser importante (fonte de cálcio e efeito mecânico nos dentes) também apresenta características que podem acarretar complicações. Pela sua dureza, podem causar fraturas nos dentes dos pets enquanto estes mastigam. Quando engolidos, podem causar obstruções no trajeto digestivo. Engolir pequenos pedaços ou lascas de ossos pode ter como consequência feridas na boca e/ou no interior dos órgãos digestivos. Em casos mais graves podem ocorrer perfurações internas, podendo levar à morte do animal.

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Cuidados a ter com uma alimentação crua

A crescente procura por este tipo de alimentação também aumenta o risco potencial. Muitas pessoas não percebem os riscos associados e, sem os conhecerem, não os saberão evitar. Assim, aqui ficam alguns cuidados a ter, bem como algumas advertências:

  1. Devido ao potencial risco de infeções, a alimentação crua não é recomendada para animais que estejam a fazer quimioterapia ou que tenham doenças que afetem o sistema imunitário.
  1. Tutores que sejam susceptíveis ou que contatem com pessoas com maior risco de contrair infeções (crianças pequenas, idosos, doentes imunossuprimidos, doentes a fazer quimioterapia,…) devem estar conscientes dos riscos acrescidos de infeção que vêm com a alimentação crua. Dado o risco acrescido de contrair infeções, a utilização de dietas BARF não é recomendada nestes casos.
  1. A carne deve ser congelada a -20º C durante pelo menos 3 dias (para matar os parasitas) e deve permanecer congelada até uso. Este processo não mata as bactérias e estas podem estar presentes e viáveis, mesmo depois da congelação. Após o descongelamento não se pode voltar a congelar. Deve ser dada particular atenção ao armazenamento e à manipulação da carne crua.
  1. Por ter um alto teor de proteína, a alimentação natural não é recomendada para animais que tenham insuficiência hepática e/ou renal (pois estes têm dificuldade em metabolizar as proteínas).
  1. Devido ao alto teor de ácidos gordos, a alimentação natural (não formulada por especialistas) não é recomendada para animais com pancreatite ou diabetes. Estes pets precisam de formulações muito especiais e difíceis de obter numa dieta caseira para não causarem agravamento da doença, com consequências potencialmente fatais.
  1. É preciso especial cautela com pets jovens e a dieta BARF.  Uma proporção de cálcio e fósforo incorrecta pode provocar deformações ósseas e problemas de crescimento.
  1. Os pets que façam uma dieta BARF devem fazer análises periódicas e checkups médico-veterinários para garantir que a dieta está equilibrada e que não existe nenhuma deficiência que precise de ser abordada. Esta necessidade é ainda maior em animais jovens e nos animais com doenças crónicas.
  1. Se quiser adotar uma alimentação natural caseira para o seu cão consulte um especialista em nutrição animal. Este poderá ajudá-lo a desenvolver um plano adequado às necessidades do seu pet. Sobretudo, deve procurar ajuda especializada que saiba informá-lo dos riscos e de como evitá-los. Seguir uma alimentação crua equilibrada exige esforço e muita informação por parte de quem decide optar por essa via. O desleixo e simplificação excessiva pode ter consequências nefastas para a saúde do pet e de toda a família.

Resumindo, alimentar o seu pet com dietas BARF tem vantagens e desvantagens. Uma alimentação crua poderá não ser a melhor opção para todos os cães, nem para todos os tutores. Optar por uma dieta crua é uma decisão que deve ser tomada de forma responsável, tendo toda a informação necessária na sua posse.

Cabe-lhe a si, enquanto tutor informado, tomar a melhor decisão para o seu pet e para todos. Não se esqueça que pode registar a alimentação e todos os dados do seu pet (peso, idas ao veterinário, datas importantes, etc.) na APP da Petable. Assim mantém toda a informação à mão, sempre que for necessário.

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